Na época da pré-adolescência, eu
costumava passar as férias na casa dos meus avós, junto com o meu irmão, que já
morava com eles, no interior de Sergipe.
Férias na casa dos avós, eita coisa
boa, era uma farra. Num sítio próximo, morava um casal de irmãos, da nossa
faixa etária, Cecinha e Messias, então, juntávamos os quatro e fazíamos a
festa.
Uma das coisas que gostávamos de
fazer era construir uma cabana e cozinhar a nossa própria comida e para isso, íamos
à mata buscar madeira para a construção da casinha e lenha para ascender o
fogo. Sempre fugíamos escondido da minha avó porque ela não queria
que meu irmão me levasse ao mato, pois era uma região de cobras venenosas e os
perigos para quem não tem familiaridade, com a mata, são muitos.
Nessas ocasiões, fazíamos um
fardo com comidinhas, frutas, água. Meu irmão e o outro garoto levavam fumo de
corda e cigarros de palha, claro que “furtados” dos nossos avós ou dos pais dos
vizinhos.
Certa feita, tivemos uma experiência
inusitada, colocamos nossos pertences por dentro das folhas de um arbusto e
entramos na mata que, para nós, alheios aos perigos, era uma maravilha com uma
biodiversidade incrível, variedade de cores e frutos.
Lembro que eu e Cecinha fomos
colher ingá (fruto da região) e os meninos foram cortar a madeira. Ouvíamos os
cantos dos pássaros e outros sons típicos do mato, escutávamos as vozes dos
meninos, logo ali, na nossa frente. Perdemos a noção do tempo, distraíamos com
uma planta exótica, um sapo diferente e outras curiosidades da mata. Então, o
meu irmão e seu amigo começam a nos chamar e nós respondíamos, suas vozes vinham de um lugar perto, mas não conseguíamos
nos encontrar, andávamos, andávamos e não saíamos do lugar. Estava escurecendo e começávamos a ficar
desesperados, eu já estava chorando, ouvia, também, o choro dos meninos, quando
Messias disse que era o Caipora que estava nos encantando, então Cecinha teve a
ideia de dizer em voz alta: “a gente tem
fumo e cigarros de palha, pode levar, deixe a gente ir embora seu Caipora”.
Como num passe de mágica, encontramos os meninos que estavam a menos de quatro
metros de distância de onde estávamos e vimos o caminho da saída.
Para o nosso espanto, quando
chegamos ao arbusto, no qual havíamos guardado nossos pertences, tudo estava lá:
comida, cordas, água, menos os cigarros e o fumo de corda. Ouvimos o assobio
agudo do Caipora que estava feliz com o presente recebido. Imagine o nosso
medo, debandamos na correria até em casa. Não precisa dizer da corsa que
levamos da vó, mesmo explicando que fomos encantados pelo Caipora.
Você talvez não acredite, mas assim
aconteceu...
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